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António Luís Marinho
."Na minha aldeia
não há ódios, mas estimas
tem-se amor pela vida alheia
todos são primos e primas."
Silva Tavares
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Na passada quarta-feira demitiu-se o adjunto do secretário de Estado do Ambiente pelo facto de ter sido conhecida a sua ligação familiar ao membro do governo: era seu primo.
Repare-se que a demissão não se deve, ao que tudo indica, a mais nenhuma causa senão esta: o laço familiar ter sido noticiado pelo jornal Observador.
Portanto, aquilo que, segundo o primeiro-ministro, não passa de algumas coincidências sem importância e que, concluímos nós, não preocupam nem causam qualquer mossa no governo, acaba por motivar a demissão de um adjunto do gabinete de um secretário de Estado. Estranho, no mínimo.
A verdade é que estas “coincidências” já não podem continuar a ser ignoradas.
Num recente debate televisivo, o advogado Ricardo Sá Fernandes lembrou que nunca nos governos da democracia, da ditadura, da I República ou da monarquia constitucional se sentaram, lado a lado, marido e mulher ou pais e filhos.
António Costa ficará na história política portuguesa por ter conseguido algo que se considerava impossível: congregar as esquerdas para viabilizar um governo.
Mas também não deixará de ser recordado por ter chefiado um governo com um verdadeiro recorde de laços familiares.
É verdade que Portugal é um país pequeno, muitas vezes comparado a uma aldeia. Mas sermos todos “primos e primas” só fica bem na velhinha canção A minha aldeia, com letra de Silva Tavares e música do maestro Belo Marques, composta em 1938 para a revista Rosmaninho, interpretada por Maria Helena Matos, filha da grande atriz Maria Matos.
A pergunta que muitos fazem, para tornear a questão, é esta: será isto ilegal?
E a resposta é: não!
Está em causa a competência de alguns dos visados? Também não!
Mas, mais uma vez, é de ética e de transparência que falamos - em resumo, algumas das caraterísticas essenciais que separam a verdadeira democracia de outros regimes.
Como nos lembra Fernando Savater, um dos maiores pensadores espanhóis da atualidade:
“A ética não pode ficar à espera da política”.
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in Jornal i
5 de Abril
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