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24 fevereiro 2019

O educador da classe operária...

Arnaldo de Matos, faleceu ontem
e foi a notícia da sua morte que levou o
José Pacheco Pereira
a dedicar-lhe no seu 
"Espaço Público"
algumas palavras de apreço.
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José Pacheco Pereira

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Com o título "Arnaldo de Matos encontra a Ceifeira", Pacheco Pereira começa por destacar que "A intransigência pública do MRPP não o impedia de ter capacidade para conversar e conspirar com organizações e grupos bem longe da extrema-esquerda."
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Não há nada como morrer para passar de besta a sábio, e este é um velho hábito português típico de um país que, não respeitando nada, está sempre pronto para o salamaleque fúnebre(…)
Arnaldo de Matos veria com ironia a sucessão de elogios fúnebres que está a receber.
(…) Mas deixemos as asneira, e tentemos falar do homem, do percurso e do tempo que começa agora a encerrar-se por obra da Ceifeira.
Arnaldo de Matos foi um activo militante do movimento estudantil que se destacou não só na sua escola, a Faculdade de Direito, mas no movimento federativo, particularmente nas chamadas "reuniões interculturais" e nos seminários de estudos associativos 
(...) Destacava-se pelas suas qualidades de orador e pela escrita. Mas, a breve prazo, deixou de poder ter "legalidade" e mergulhou na via clandestina.
(…) O MRPP foi a mais importante organização da segunda vaga da extrema-esquerda, que já não era moldada pela luta pela ortodoxia do marxismo-leninismo nos partidos comunistas que caracterizavam a ruptura sino-soviética, mas sim pela influência decisiva da Revolução Cultural.
(…) O MRPP foi capaz, durante quase uma década, de recrutar e mobilizar muitos estudantes e intelectuais, jornalistas e jovens operários radicalizados, principalmente em Lisboa e na cintura industrial.
Nos meios da cultura, do cinema, das revista culturais, nas organizações de jornalistas e em muitas redacções, o MRPP estava lá em força. Não surpreende, por isso, que tantas pessoas da elite intelectual e política tivessem a sua biografia a passagem pelo MRPP
(…) A agressividade política do MRP levou-o a ter um papel no incremento de acções de rua de confronto directo com a polícia antes do 25 de Abril e a começar a ter presos. Depois do 25 de Abril, entrou em choque com o MFA , tendo sido a única organização que foi sujeita a uma operação em massa por parte dos militares no poder
com a preciosa ajuda do PCP, que os considerava "contra-revolucionários" e agentes da CIA. Arnaldo de Matos foi igualmente preso e gerou um grande movimento exigindo a sua libertação.
(…)
Pacheco Pereira termina a sua "homenagem" a Arnaldo de Matos de maneira curiosa… sem nunca se declarar um "adversário" de peso à figura agora desaparecida. Diz ele, para finalizar:
"Contrariamente ao que se diz por aí, eu nunca fui membro do MRPP, uma daquelas falsidades que nunca morrem nas redes sociais, mas tinha relações cordiais com o      Arnaldo de Matos. Ainda há poucos meses encontrei-me com ele, na sede do MRPP para recolher documentação para o Arquivo Ephemera, que ele sempre ofereceu. Ele atacou-me do Twitter por causa da inexistente censura a Mapplethorpe em Serralves, mas estes ataques, fazem parte do lado para onde durmo melhor. Mas eu sei muito bem como tudo na história acaba por repousar, maldades e bondades. Eu não queria estar no Inferno quando chegar o camarada Espártaco. O Diabo que se cuide."
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in. "Público"
23.02.2019
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Arnaldo de Matos
Fundador do MRPP

(fotografia antiga)

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