Pedro Homem de Melo
escreveu em 1947
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Pedro Homem de Melo
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Anunciação
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Quando nas ruas não houver ciganos,
Nem árabes na praia sequiosa,
Nem sereias no mar, nem uma rosa
Se desfolhar os dedos desumanos,
- Quando as mãos brancas, rudes, que hoje afago
Destruirem na praça estátuas falsas,
Quando o vento varrer lages descalças,
Em torno do meu lago,
Quando o antigo jardim ficar desnudo,
Tal qual a serra agreste,
Quando o faquir rasgar a sua veste
De púrpura e veludo,
E quando o cisne em último bailado
Exausto se prostrar
E a sombra e o seu exército pesado
Entrarem no solar,
Ai! quando as naus pela maré salgada
Se afundarem com oiro, vinho e pão,
Quando a volúpia não tiver estrada
E a beleza e a mentira também não,
Quando os lábios das virgens, porto a porto
Ao vento e às noites não pedirem nada
(Quando a volúpia não tiver estrada!)
Ninguém chame por mim, que estarei morto.
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Pedro Homem de Melo
in."Bodas vermelhas" - 1947
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