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A capa do livro
e o seu autor
António Salvado
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Com a apetecida dedicatória que fazes o favor de me deixar nestes momentos importantes com que brindas a poesia portuguesa.
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Numa selecção de poemas teus nascidos da "Cantiga partindo-se", de João Roiz de Castelo Branco", realizada por Maria de Lurdes Gouveia da Cunha Barata, esta especialista na tua poesia começa por nos dizer que:
A "Cantiga Partindo-se" de João Roiz de Castelo Branco pode considerar-se dos mais belos poemas da literatura portuguesa, nela ressumando a dor de separação, que se embebe de lágrimas de tristeza, de saudade antecipada, que se engasta no olhar: os olhos tristes, com uma tristeza sem comparação com quaisquer outros olhos, os olhos saudosos de um presente que anuncia saudade futura, com a partida em que são substantivados os olhos (os tristes), abrangendo toda a dimensão de um ser."
(...) e, mais adiante acrescenta que: "Fica ainda o testemunho do poeta António Salvado, autor-criador no tecer da palavra poética, mesmo que essa palavra seja inspirada em outra palavra poética",
(...) e acrescenta ainda que: "Não cabe neste espaço a análise dos poemas inspirados em João Roiz, o que permitiria a demonstração de como há um verdadeiro criador, ultrapassando o motivo da inspiração."
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Também o nosso contemporâneo e amigo Manuel Costa Alves nos brinda, no texto inserido nesta obra, com palavras bonitas e sábias que os teus Amigos gostam de ler.
Manuel Costa Alves
O poema "Cantiga partindo-se", de João Roiz de Castelo Branco, talvez o primeiro dos nossos poemas maiores , é uma fala da separação, da despedida, da dilacerante confissão de quem se dói partindo, partindo-se.
No poema com o mesmo título (um poema notável) António Salvado transporta o mesmo conflito: "Dói-me esta ausência, esta margem negra das pupilas dos meus olhos que vão partir para ti." Resta a "noite que nos precipita desprevenidos no âmago de nós".
Manuel Costa Alves diz-nos ainda que: "Vários poemas inseridos neste livro refletem, esmiuçam, fundem, prolongam, dilatam em múltiplas direcções a percepção do conflito interior da separação (por desunião, afastamento forçado, desencontro) tão genialmente escrito por João Roiz.
Constituem um belíssimo exemplo de uma relação poética própria, autónoma, com a obra de um poeta amado de quem é, aliás, um dos principais estudiosos. Os especialistas designam a relação poética, que António Salvado estabeleceu com "Cantiga Partindo-se", por intertextualidade endoliterária. E tem muito que se lhe diga por quem muito mais competentemente possa dizer."
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Escolhi para ilustrar este meu apontamento dedicado à tua "Cantiga partindo-se", um dos seus últimos poemas a que deste o título "Zéjel (1)"
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Zéjel (1)
Só por vós partem tão tristes
meus olhos qu' iguais não vistes.
E bem antes da partida,
débil creio a minha vida
e a saudade tão pungida
pois sei que não a sentistes:
só por vós partem tão tristes
meus olhos qu' iguais não vistes.
Continuamente a tremer,
minh' alma a desfalecer
não atina que é prender
laços que vós desunistes:
só por vós partem tão tristes
meus olhos qu' iguais não vistes.
A minha dor sem igual
é como fino punhal
como feroz vendaval
que, por ser tal, não cingistes:
só por vós partem tão tristes
meus olhos qu' iguais não vistes.
Não achareis a saudade
de mim nesse imensidade
de distância e de ansiedade
pois nela não exististes:
só por vós partem tão tristes
meus olhos qu' iguais não vistes.
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in "O ouro e as sementes", Antologia
org. Maria do Sameiro Barroso, 2015
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NB -
Natural de Castelo Branco, António Salvado possui uma vasta obra, literária e cultural, que tem merecido relevantes reconhecimentos nacionais e além fronteiras. Licenciado em Letras, pela Universidade Clássica de Lisboa, reparte as suas actividades profissionais pelo ensino e pela museologia. É professor jubilado do Ensino Superior Politécnico.
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