...num poema que António Salvado
intitulou "O que se chama a noite".
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António Salvado
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O que se chama a noite...
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O que se chama a noite é tão somente
uma ignorada face, a lucidez desfeita
em que sentimos a visível sombra...
Não basta ao nosso corpo conhecer o dia,
à nossa alma não basta conhecer a senda.
Começa nela a esperança no devir,
o intervalo, o espaço transitório,
onde as lembranças pressentidas ficam:
débeis ensaios de caminho e névoa,
perscrutação possível dessa mancha
que nos tolhe os passos. Começa a vida
uma ignorada face que negamos...
Passá-la é descobrir a nossa infância
nas horas que o relógio não marcou.
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António Salvado
in "Antologia" - Março/1985
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