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24 março 2014

O Triunfo dos falhados...

... a "Opinião" de Vasco Pulido Valente
na sua Coluna de Domingo, no "Público"
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Vasco Pulido Valente

Há em Portugal um pequeno grupo de indivíduos que Portugal quer desesperadamente ouvir sobre o futuro. Este grupo passa hoje a vida na televisão e nos jornais, com ou sem espaço próprio, e, fora disso, é fatal em qualquer conferência, encontro, simpósio ou debate que por aí se faça na universidade e nos partidos.
Quem são os génios que adquiriram um prestígio que vai do povinho iletrado da TVI, da RTP ou da SIC, às maiores sumidades do país? São, como seria de calcular, os ministros das finanças que magistralmente nos levaram à bancarrota e à miséria. Não sei ou não percebo por que razão esse fracasso lhes deu uma autoridade para falar sobre o desastre a que presidiram. Mas que deu, com certeza que deu; e eles assoprados pela sua importância, não se importam de o usar.

Tirando Cadilhe, que tem juízo, e Sousa Franco, que já morreu, a espécie não se poupa. Vítor Gaspar, Teixeira dos Santos, Bagão Félix, Manuela Ferreira Leite, Catroga, Cavaco (que não se demitiu do seu penacho de economista lá por ser primeiro-ministro e Presidente da República), nenhum deles pára. Acordamos com os conselhos da seita, adormecemos com as suas profundas profecias. O facto de quase sempre se enganarem e de sempre revelarem com emoção e tremor aquilo que é óbvio para toda a gente não os perturba, nem perturba o público que os venera e ouve. A felicidade da vida deles não se explica: entram com foguetes, “governam” no meio de uma contínua gritaria e saem (enquanto não entram em grandes lugares) para uma espécie de nuvem, donde arengam as massas e criticam com azedume os predecessores.

Quem não inveja este extraordinário estatuto? Nem uma alminha lhes pede responsabilidades, nem um miserável inspector (e centenas trabalham para as finanças, perseguindo o pequeno trafulha) recebe a melancólica incumbência de examinar o que eles fizeram ou não fizeram. O parlamento na sua incurável e perpétua desordem não se interessa muito pelo passado. Os ministros, que espatifaram o nosso dinheiro ou consentiram que ele se espatifasse, podem por isso gozar, sem sequer uma estadia no purgatório, de uma doce existência, que a Pátria acha que eles merecem. O Presidente da República e o primeiro-ministro pretendem que “lá fora” nos levem a sério. Mas se “lá fora”  alguém olhar com atenção para a lista dos nossos ministros das Finanças, conclui com certeza que este é um país burlesco.
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in. "Público"
de 23 de Março

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