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29 janeiro 2013

Na morte de Jaime Neves...

in Assuntos temporários...
por Pedro Lomba
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no "Público"
29.01.2013
Pedro Lomba
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…a primeira coisa que tem de ser dita é pessoal. Jaime Neves foi um militar. Não foi um político. E não foi um militar transformado em político nas horas vagas. Não vou cometer a banalidade trôpega de dizer que foi um grande militar antes e depois do 25 de Novembro. Outros militares, e outros como ele, dizem que Jaime Neves foi um grande militar. Chega-me sobretudo saber que Jaime Neves sempre teve o absoluto respeito e lealdade dos homens que comandou. Homens que, na barafunda que eram as forças armadas portuguesas em 1975, na confusão de hierarquia, correntes, poderes, precisavam mesmo de contar com quem os liderasse, com quem desse o corpo por eles. Nessa altura não havia leis, coletes protectores ou planos seguros.

em política, as lealdades trocam-se e vendem-se numa fancaria infrene. Nos negócios, as lealdades são o nome usado para definir dependências. Ora, os homens do regimento de comandos da Amadora que em 1975, depois do Partido Comunista ter tomado conta do quartel e de ter saneado Jaime Neves, disseram a Otelo Saraiva de Carvalho que só admitiam ser liderados por Jaime Neves, esses homens escolheram-no naturalmente, seguiram-no e não queriam outro.
Os homens que, na fase mais agitada da confrontação do 25 de Novembro, só queriam disparar sobre a Polícia Militar e foram aplacados pela acção de Jaime Neves, evitando assim um banho de sangue, reconheciam uma autoridade. Suponho que quando dizem que Jaime Neves foi um grande militar estão a pensar nisso: alguém que soube o que era comandar homens, alguém que sabia usar e aplacar a força quando era preciso.
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Jaime Neves contribuiu para que o 25 de Novembro acabasse com o PREC, restabelecesse a ordem nas diversas facções das Forças Armadas e pusesse os militares de volta nos quartéis. Com isso permitiu que nos tornássemos na democracia que somos hoje.
Hoje vai-se tornando moda dizer que o 25 de Novembro foi um movimento ofensivo e não reactivo, um golpe entre muitos, de que não havia qualquer deriva ditatorial no PREC nem esquerdas militares organizadas, gonçalvistas e basistas, ou propósitos controladores no PCP. Há construções para todos os gostos.
(…)
…num certo sentido, o 25 de Novembro, embora tivesse acabado com a Revolução, não deixou de permitir a continuação dos “revolucionários”, participantes agora em eleições que jamais tinham querido. Perguntava quem participou activamente na coisa: “Então fez-se o 25 de Novembro e estes tipos continuam?” De facto continuaram. Essa foi a grandeza irónica da data. Já os heróis como Jaime Neves regressaram ao que sabiam fazer: à discreta vida militar. Sem nunca pedir nada, sem esperar nada.
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Jaime Alberto Gonçalves das Neves nasceu no 10.º aniversário da Revolução de 28 de Maio de 1926.
Jaime Neves entra em1953  para a Escola do Exército. Realizou uma comissão de serviço entre os anos1958 e 1960. Subsequentemente foi destacado para África, onde cumpriu quatro missões: duas em Angola e duas em Moçambique Era tenente-coronel graduado em coronel no Verão Quente de 1975  e chefiava o Regimento de Comandos.
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Jaime Neves em Novembro de 1975

Foi agraciado a 13 de Julho de 1995, pelo então presidente da República, Mário Soares e com o posto de Coronel, com o grau de Grande-Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito.
Foi promovido a Major-General, por proposta do Exército e com a aprovação das chefias de todos os ramos das Forças armadas e após sugestão de António Ramalho Eanes e Vasco Rocha Vieira A promoção teve com base no seu papel durante o 25 de Novembro que colocou um fim ao Processo Revolucionário em Curso, "tendo em conta o papel muito relevante que Jaime Neves teve para evitar que Portugal caísse numa ditadura comunista ", além de "garantir que Portugal seguia no sentido do pluralismo, da democracia e da liberdade de expressão" As chefias militares consideraram que o seu "mérito e os serviços prestados à Pátria" justificam a "promoção por distinção". A promoção a Major-General foi confirmada pelo 19º  Presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva , a 14 de Abril de 2009
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Major General Jaime Alberto Gonçalves das Neves

Faleceu a 27 de Janeiro de 2013, no Hospital Militar Principal, em Lisboa.
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Cfr.Blogue "Asas nos Céus"

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