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12 janeiro 2013

A Opinião de...

...Vasco Pulido Valente
No Público de 11 de Janeiro

Vasco Pulido Valente


Histórias portuguesas

Um discurso atrás do outro e basta para começar uma interessante polémica entre o Presidente da República e o primeiro-ministro. Com este ambiente de zaragata e de gritaria, porque não haviam também eles de se juntar à loucura geral. O Presidente da República disse que a economia portuguesa estava em “espiral recessiva”; o primeiro-ministro disse que a economia não estava num “círculo vicioso”; e o Presidente da República repetiu que, sim senhor, a economia estava em “espiral recessiva”.

Claro que seria melhor se os dois cavalheiros se entendessem, pelo menos, na geometria: uma espiral não é um círculo e um círculo não é uma espiral. Os portugueses não deixariam de agradecer um esclarecimento sobre esse ponto básico. Nada ajuda mais do que saber ao certo se caímos dia a dia na miséria por causa de um círculo ou de uma espiral.

O Dr. Mário Soares, com a sua autoridade e a sua energia, costuma ameaçar a populaça com três flagelos: primeiro, com uma insurreição de massa como em Paris em 1792; segundo, com o fim da Europa; e, terceiro, com uma guerra europeia. Mas como, aparentemente, não assustou ninguém, resolveu esta semana ameaçar o pobre indígena com o apocalipse: a III guerra mundial.

O Dr. Mário Soares não se deu à excessiva franqueza de informar o indígena entre quem seria essa terrível guerra: entre a América e a China? Entre a Rússia e a América? Entre a Rússia e a China? Na sua bem “amada” Europa, não existem com certeza razões de pânico, porque não existe um único exército capaz de combater, uma coisa que faz muita falta numa guerra, mesmo mundial.

Só que os portugueses, quando não conseguem pagar as contas, pensam imediatamente em conquistar um império, de preferência o império que perderam. E, como são modestos, pensaram logo no Brasil. O nosso alto comando congeminou logo uma estratégia irresistível: importar para Portugal a ortografia brasileira. No momento em que os portugueses escrevessem (o pouco e mal que escrevem) sem consoantes mudas, o Brasil não podia deixar de se render, com uma saudade arrependida e desculpas rasteiras. Mas, como a humanidade é má, em particular no hemisfério sul, o Brasil terminantemente recusou o nosso audacioso “acordo ortográfico” e deixou Portugal sem consoantes mudas, pendurado numa fantasia ridícula e sem a menor ideia de como vai sair deste sarilho: um estado, de resto, habitual.

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