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23 julho 2007

Os Livros de Despedida - 1955

O Curso de 1954/55
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Este "livro de despedida" não apresenta a clássica Fotografia do Curso.

A capa do livro


.De entre os “poetas” ilustres que debitaram versos para este Livro de Despedida sobressai o nome do nosso saudoso Amigo Joaquim Semedo Toco, mas o Brás Venâncio, o Ângelo Bastos, a Maria José Rainha e o Pina de Carvalho, este com uma “série” que denominou “Os Bebíades” (na pele de um "Camões da pingoleta"…) distinguem-se também na obra poética deste livro. Deixamos para o fim os nomes do Luís Nuno Ferraz de Oliveira (Gólgota – 1985) e do meu Amigo dos tempos do Jardim-Escola (1942), José Correia Tavares que, pontualmente, aqui deixaram o seu nome…nessa altura ainda pouco conhecido.
De entre os autores das caricaturas sobressai, à distância, o José Vieira Lopes, seguido pelo Amado Ramos Estriga. O Adelino Robalo Cordeiro e o Luís Grilo assinam duas presenças cada um. Todos estes artistas possuíam um traço que os caracterizava sem deixar margem a qualquer dúvida.
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Maria Gabriela Bragança Ramos Correia


É trágico, brutal a negra Morte
Arrebatar uma vida em mocidade!
Em pleno Abril, em plena flor da idade
Se mostrou tão cruel a sua sorte

Esta é a primeira quadra do soneto assinado pel’”O Curso do 7ºAno”.
Mas os versos, que envolvem a sua caricatura, parecem terem sido muito bem escolhidos:

“Naquele engano de alma ledo e cego
Que a fortuna não deixa durar muito.”
Camões
e
“Rosa do amor, rosa purpúrea e bela
Quem entre os goivos te esfolhou a campa?”
Garrett


A Gabriela faleceu no dia 5 de Novembro de 1954, vítima do tufão que varreu a cidade, quando saía das aulas pelas 12h 45m.
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Maria Natália Melo de Almeida

Nariz um pouco afilado,
Esbelta como uma dália,
Morenaça engraçada
Quem será? É a Natália.

De manhã às oito e meia
Sai de casa esbaforida
E só com duas passadas
Atravessa a Avenida

Chega toda afogueada
A bata por apertar
O estômago a dar horas
E as lições por estudar.

A propósito da catástrofe que atravessou a cidade naquela manhã de Novembro, fui descobrir um “apontamento” que cabe bem aqui, ao fim de todos estes anos decorridos: É uma notícia retirada do semanário "Beira Baixa", de Castelo Branco, saído no dia 13 de Novembro de 1954:
“O Sr. Dr. Fausto Seabra de Almeida que aguardava em sua casa a chegada de sua filha, aluna do Liceu, para almoçar, logo que se apercebeu de que havia tantas vítimas, dirigiu-se ao Hospital da Misericórdia para prestar os seus serviços clínicos e ali esteve esperando, a cada passo, encontrar a sua filha entre os sinistrados o que, graças a Deus, não aconteceu por ter ficado ilesa”

A Natália em 7 de Junho de 1991


A Natália Seabra em 4 de Julho de 1992

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Maria Regina d’ Oliveira Reis

Tem uma cara engraçada
E um andar interessante,
É da Regina que falo
Moça bela e elegante.

Gosta imenso de cinema
E não menos de falar,
Pois a sina já lhe disse
Que não nasceu p’ra estudar.

A Regina, que já não vejo há…dezenas de anos, era irmã do meu Amigo Rónias, Rui de Oliveira Nunes, infelizmente já falecido. Num “laboratório” que tinha na sua casa, na rua de Santa Maria, fiz pela primeira vez uma “hidrólise da água” e ouvi, também pela primeira vez, as ondas sonoras emitidas por um “receptor de Galena” (para quem não “pesca” destas coisas, a Galena é um Sulfureto de chumbo, minério de cor cinzenta e brilho metálico) que ele construiu quando andávamos no 4ºAno.

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Raul Belo Romãozinho de Matos Ferreira
Tem peneiras que se fez
Ás do volante a valer
E mais tarde quer vir ser
Um segundo Gonzalez…

Recordas noites saudosas
De estrelas e claro luar…
E elas todas a escutar
As guitarras bem chorosas.

Uma janela se abria
Um lenço que desfraldava,
Uma moça que chorava,
De tristeza ou alegria.

Por causa duma “trigueira”
Foi grande o seu sofrimento
Até chegar o momento,
Da conquista derradeira.
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António Ramos dos Santos Figueiredo

Eis um cábula entre os mais assinalados
Que passaram por esta terra Lusitana
Em cinema e fans especializado
Começando e acabando na Silvana.
E na arte do cravanço já formado
Não podendo aguentar mais a força humana
E entre a malta, a custo, edificaste
Os calotes que nunca mais pagaste

É o Correia Tavares, que assina estes versos, também "ajudado" por Camões…
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O Figueiredo, em 4 de Maio de 1980
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Ângelo Patrício Soares de Bastos



Fracos, pobre, oprimidos,
Ele deseja advogar.
Que não sejam esvaídos
Seus sonhos e meu pensar

Depois de tanto escrever
Aguardo, que forte e duro,
Seja sempre o seu viver
E risonho o seu futuro.

Foi o Semedo toco o autor dos versos que terminam assim.
O Ângelo foi Presidente da Câmara da Sertã de onde era natural.
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Maria Emília de Oliveira Salavessa


Quando eu a conheci, inda ela era
Uma criança, mal sabendo falar
Mas já na sua alma a primavera
Lindas flores anda a cultivar.

Quando as outras brincavam, ela lia,
Pois a leitura era a sua paixão;
Inteligente, tudo compreendia;
A tudo dava a máxima atenção.

Lembro-me da Maria Emília, miúda ainda, quando em 1940 (?) morava, com a irmã Maria José e os Pais, na Praça Velha, numa casa entre o Palácio Mota e a Casa do Arco.

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Maria da Graça Pires Carreto


Alegre por natureza
Pronta a rir e a folgar,
É mesmo assim esta Graça,
Que tem graça no falar!

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Maria Luísa Ribeiro Goulão

(…)
Para poder calcular
Quanto tempo levará
Um Belo raio de sol
Junto de nós a chegar.

Agora, só em aparte
É que já aconteceu
Como a primeira mulher
Que no mundo apareceu.
Como Eva foi tentada
Por causa de uma maçã
A Luísa foi tentada
Mas sim por uma romã.



A Maria Luisa, em 9 de Junho de 1985

A Maria Luisa faleceu num acidente de viação quando viajava num transporte público, quase no mesmo local onde o Raúl Romãozinho, seu marido, havia encontrado a morte também num desastre automóvel.
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Abel Castiço Pedroso


Abel Castiço é chamado
Pelo Registo Civil
Este rapaz afamado
Qu’usa calças de funil.


O Abel em 4 de Junho de 1998

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João Antunes Bártolo

Filósofo cem por cento
Da lógica partidário,
É “intuitivo”, “evidente”
“Isso não está no sumário”

Apaixonado por música
Até já ouvi contar
Que Verdi o processou
P’la “Aida” querer roubar.

O João Bártolo com o Pina de Carvalho em 3 de Maio de 1980

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João dos Santos Ramalho Eanes

É bom rapaz, bom amigo,
De carácter generoso,
E já agora vos digo:
De “chumbar” não há perigo
Pois é muito estudioso.

Falemos do coração
E mudemos de sentido:
Poderei dizer então
Que tem sido brincalhão
Com as setas de Cupido.


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João Teixeira Leão Meireles

Já amou muita menina
E também já foi amado,
O que resultou em Idanha
O rapaz ficar queimado.

A sua estadia em Fão
Foi um tempo de conquistas
Uma loira, uma morena
Que deram muito nas vistas

O João Meireles com o Olímpio Matos em 5 de Junho de 1999, na cerimónia de descerramento de uma placa homenageando o Dr.José Lopes Dias


O João Meireles e o João Ramalho, em 8 de Junho de 1985

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Joaquim da Conceição Semedo Toco


Pouco mais de palmo e meio
Tem este moço de altura
O que não impede contudo
De fazer boa figura
Mas por falta de um centímetro
Ele está sentenciado
A não ir para o Exército
Que é o seu sonho doirado…

O Joaquim Toco e a Maria Amélia, em 15 de Junho de 1979

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José Cabaço Neves


Rompem clarins o espaço perturbado
Ergue-te breve que é chegada a hora,
Sacode a fronte e parte muito embora
No partir siga a dor do berço amado.

Faz-te gigante e luta!…

Estes versos do Luis Nuno Ferraz de Oliveira parecem prever com muita antecedência o que sucedeu a este nosso particular e saudoso Amigo… que a guerra no Ultramar roubou ao nosso convívio.
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José Eduardo Pires Fernandes

Eis aqui quase “cume da cabeça”
Da Beira Baixa, a aldeia do Fratel
Onde a terra acaba e o Tejo começa
E o Zé bebeu o seu primeiro pichel
P’ra Castelo Branco veio esta boa peça
De garrafão, mala e saquitel
Deu-se mal co’as águas; foi veranear
Até Alcácer mas tornou a voltar.

E assim foi andando o bom petiz
Do seu estudo colhendo o doce fruito
Naquele engano d’alma cego e feliz
Que os mestres não deixam durar muito
Nas janelas do Cansado e do Aviz
As belas Tágides caçavas
E dos livros sempre neurasténico
Fazias lastro, cartuxos, higiénico.

(…)
Adeus, Zé, saúde e felicidades
Até um dia que te volta a encontrar
Sabes que sou amigo e se p’ra pouco valho
Podes sempre contar com o Pina de Carvalho

O Zé Pequeno, comigo e com o Fernando Ribeiro, em 15 de Junho de 1979

O Zé Eduardo em 3 de Maio de 1996

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Manuel António de Matos Pina de Carvalho

Vais deixar-nos. Quem cuidará
de ti como eu? Estou preocupada.
(Tua Mãe)

Continua como até aqui.
Ficarei satisfeito.
(Teu Pai)

Lembras-te netinho, daquele dia
Em que dormiste a meu lado?
Os momentos mais felizes da minha vida
(Tua Avó)

Rezarei por ti
(Tua Madrinha)

Faz-te homem.
(Teu Padrinho)

Peço desculpa ao “poeta” de serviço, o António Figueiredo!
Os teus versos iriam "estragar" os depoimentos que aqui transcrevo…

O casal Pina de Carvalho em 11 de Junho de 1994


O "Carapelesse"(lembras-te... que era assim que nos referíamos a ti?) com a filha mais nova, em 7 de Junho de 1991


O "Clã" Pina de Carvalho em Castelo Branco, em 7 de Junho de 1991

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Paulo Nina de Oliveira

Pertence ao grupo dos bem trajados
Pois mostra certo esmero no vestir
Fato impecável, fioco algodoado
O melhor que há, diz ele a sorrir
Le dernier cri, alface molhada
Gravata italiana, sapato de polir
Não quero dizer que seja um pipi
Mas é sem dúvida um perfeito dandi.

1 comentário:

Unknown disse...

Boa tarde, Estimado Professor.

Sou um albicastrense que segue o seu blogue, praticamente, desde o seu início, o qual tem sido uma fonte inesgotável de informações sobre a nossa cidade. Bem-haja pelo serviço público que presta à nossa cidade!
Neste momento estou a organizar com uma associação da cidade, um livro sobre as memórias de Castelo Branco entre a década de 30 e a década de 80 do século passado. Gostaria de lhe pedir permissão para publicar (com a sua devida autorização) alguns dos conteúdos que publicou nesta plataforma, como é o caso do retrato da jovem que faleceu no tufão de 6 de Novembro de 1954. Caso aceite a proposta, terá a sua devida creditação.

Com os melhores cumprimentos,

Hugo Alexandre Rodrigues