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03 julho 2007

Miguel Torga

A um negrilho

Na terra onde nasci há um só poeta,,
Os seus versos são filhos dos seus ramos.
Quando chego de longe e conversamos.
É ele que me revela o mundo visitado.
Desce a noite do céu, ergue-se a madrugada,
E a luz do sol aceso ou apagado
É nos seus olhos que se vê pousada,

Que poeta és tu, mestre da inquietação
Serena!
Tu, imortal avena,
Que harmonizas o vento e adormeces o imenso
Redil de estrelas ao luar maninho,
Tu, gigante a sonhar, bosque suspenso
Onde os pássaros e o tempo fazem ninho!

In. “Diário”, vol.VII

O poeta fala com o negrilho, também chamado ulmeiro, como se falasse com outro poeta, o negrilho é um poeta, as suas folhas são um poema, a sua sombra é o universo.


Adolfo Correia da Rocha, que será conhecido por Miguel Torga, nasce em 12 de Agosto de 1907, em S. Martinho da Anta, concelho de Sabrosa, Trás-os-Montes. Filho de gente do campo, não mais se desliga das origens, da família, do meio rural e da natureza que o circunda. Mesmo quando não referidos, estão sempre presentes o Pai, a Mãe, o professor primário Sr. Botelho, as fragas, as serranias, a magreza da terra, o suor para dela arrancar o pão, os próprios monumentos megalíticos em que a região é pródiga.

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