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04 janeiro 2023

A luta dos professores...

 ...contra um governo poluto.
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Num artigo que
Santana Castilho
publicou hoje 
no "Público"
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Santana Castilho
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Transcrevo alguns excertos do artigo mencionado:
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Do rio que tudo arrasta
se diz que é violento.
Mas ninguém diz violentas
as margens que o comprimem 
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Bertolt Brecht
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Em nove meses de governo, o resultado de uma maioria absoluta poluta e nepotista é uma pazada de demissões pelos mais escabrosos motivos e um ano lectivo que começou num clima de conflitualidade como há muito não se via.
Com efeito, na educação, o ambiente é de um profundo mal-estar, gerado por uma onda de desorientações e deslumbramentos vazios de racionalidade, assentes em sucessivas torrentes de solicitações asfixiantes, sob nomes pomposamente modernos mas substantivamente inúteis, que tornaram um suplício o nobre acto de ensinar.
Na acção deste governo é possível identificar padrões de comportamento político: quando as escolhas se revelam imprudentes, os autores não assumem a responsabilidade; quando as situações configuram escândalos, os responsáveis políticos rasgam as vestes para garantirem que as desconheciam; quando os casos se acumulam, o líder da casta vocifera: habituem-se!
Sem subtilezas linguísticas, António Costa é o verdadeiro responsável por um governo poluto, que tem reduzido os professores a simples funcionários, cada vez mais desautorizados e despromovidos socialmente.
(...)
António Costa é o verdadeiro responsável por, de modo cruel e perverso, ter posto a sociedade e a opinião pública contra os professores, para lhes retirar o direito à greve, para lhes retirar força salarial, para lhes roubar o tempo de trabalho cumprido.  Com o seu cínico jeito, nomeou mordomos, que odeiam docentes, em lugar de ministros, sem perceber que morre lentamente uma sociedade que não acarinha os seus professores. Agora, finalmente, tem os docentes na rua a lutar contra partidárias (sindicalismo tradicional incluído) e a reclamar o direito de ensinar em paz. antes que acabem, definitivamente, abandonados num país onde o acto pedagógico livre se transforme em prática administrativa ou obediência doutrinária.
(...)
Muitas críticas à greve dos professores parecem não lhes reconhecer o direito à luta por melhores condições de trabalho e pela retoma da dignidade profissional e esquecer que a greve é um instituto de manifestação de descontentamento, constitucionalmente consagrado na nossa democracia representativa. Por outro lado, para que a democracia seja mais do que apenas formalmente representativa, qualquer governo deve permanecer aberto e atento à expressividade das greves. Só assim o exercício da apregoada "soberania do povo" ganha sentido durante os quatro anos que separam os ciclos eleitorais.
Por tudo isto, os professores precisam hoje da solidariedade dos pais. Porque não há futuro para os seus filhos sem educação, não há educação sem ensino público  e não há ensino público sem professores dignificados. Por tudo isto, os pais não podem deixar os professores a lutar sozinhos. Todavia, temos uma comunidade parental que tem ficado passiva perante o rasto de destruição do ensino público, porque ainda não compreendeu como tem sido gerida a educação, particularmente na esfera pública. Espero bem que sejam agora muitos os pais portugueses que passem a compreender como a luta dos professores é, também, uma luta pelo futuro dos seus filhos.
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No "Público"
em 04/01/2023
por
Santana Castilho
Professor do ensino superior.

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