em 08 de Junho de 1997
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Pedro Paixão
“Ainda estás triste? Pergunta-me. Sim, respondo. Nunca me perguntou porquê e eu nunca lhe disse porquê. É porque não vale a pena sabermos mais coisas um sobre o outro do que aquelas que inevitavelmente vamos sabendo e já são muitas. Estávamos ali alguns dias, o sol brilhava e era tudo. No fundo somos todos iguais, não é Hanna? As diferenças que nos distinguem são pequenas e inúteis. Tu vives no norte da europa. Trabalhas numa companhia de seguros. Tens três irmãs mais velhas. Já amaste dois homens. Gostas de cuidar das plantas na varanda do teu apartamento. Acontece embebedares-te sozinha diante da televisão. Tens uma assinatura para concertos com um antigo colega que ainda julga gostar de ti e a quem tu mentes. Logo que regresses vais começar as aulas de dança. Eu vivo no sul da europa. Tenho dois filhos de uma mulher com quem não vivo. Fui recentemente promovido no jornal para o qual trabalho há já sete anos. Sofro como os outros apesar de estar convencido que sofro muito mais. Cobre-me uma invisível escuridão. Amo a uma mulher que já não me quer. Julgo que não vou aguentar e aguento. Hanna, sabes, estou terrivelmente triste. Hoje, sim, ainda mais do que ontem. Um dia destes, não se vai aguentar. Eu, pelo menos, não vou aguentar.”
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NB - Uma “ficção” aparecida no suplemento do Publico, a chamar a atenção de um novo escritor. É muito bonito e cheio de simbolismo o texto que isolei do conto publicado e ao qual o autor, de nome Pedro Paixão, intitulou: “Hanna ou as coisas não são o que parecem”.
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