António Gedeão
a que o autor deu o nomo de
"Poema sem esperança"
António Gedeão
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Poema sem esperança
Toda a esperança que tive a dividi
por quantos a quiseram receber
Deles espero agora que a devolvam
com novo rosto e acrescentado juro.
A esperança era fingida, toda feita
de conscientes manhas e enganos,
tão bem arquitectada que passava
por sincera, vivida, verdadeira.
Era uma esperança imposta, necessária
para as voltas dos dias e das noites
sem roupagens, sem véus, sem adereços
como na estatuária se apresenta.
Uma esperança sem esperança, alimentada
a soro e drogas no hospital das letras:
no escuro, ensimesmada como um feto;
na luz, extravasada como adulto.
Transferindo-me a outros me recolho
e me fico, de ouvidos apurados,
num solitário andar entre automóveis
nas poluídas ruas da cidade.
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António Gedeão
Poemas póstumos - 1983
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