Liceu Nacional de Setúbal
prestava homenagem a
Carlos Jorge
que foi, naquela época, um excelente aluno da nossa Escola.
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Carlos Jorge, concorreu aos Jogos Florais de Liceu da Guarda, chegou, entregou e venceu, em Teatro e Poesia. A atestar a validade formal e ideológica dos seus poemas, ei-los aqui! Esta a homenagem que "Alvorada" lhe rende.
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Recordo aqui apenas um poema que, uns meses mais tarde, seria mencionado num artigo publicado no jornal "Setubalense", numa "carta" dirigida a um outro aluno do Liceu que, mais tarde, também se distinguiu na carreira profissional que escolheu...
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O senhor da pera preta
O senhor da pera preta
abriu a boca
e era grande e negra e oca
a boca
do senhor da pera preta
caverna
funda cisterna
que desagua no mar
negro e grande e negro
O leão tinha a boca aberta
como uma nuvem escancarada
em céu de fim de tarde.
O leão tinha a boca aberta
mas não era de fome
era de sono
O mar é fundo
e negro
e no fundo do mar
negro
brilham, rebrilham arcadas
não as doces arcadas
de violoncelo
mas arcadas de ossos
brancas e amarelas
como tremoços
Foram os que não chegaram
à Indía
os que não morreram
nos livros volumosos
dos feitos gloriosos
os que morreram
e ninguém pôs luto
Quem põe luto
pelo escorbuto?
Brilham, rebrilham
E no dia tantos de tantos,
corpo do Infante, forja
das ferramentas que realizaram
o grandioso Sonho, descia
entre profundo e sentido pesar,
para a terra donde vira partir
as naus, abençoando-as com o olhar
Entretanto
o senhor da pera preta
fechou a boca
e já não parecia
negra e grande e oca
a boca
do senhor da pera preta
mas era.
E tudo
porque o mar só é azul,
muito liricamente azul
para quem descansa em terra
ou para quem canta
quem descansa em terra
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Carlos Jorge
em Maio/70
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NB - O jornal "Alvorada" era um órgão dos Centros de Actividades Circum-Escolares, do Liceu Nacional de Setúbal.
NB - O jornal "Alvorada" era um órgão dos Centros de Actividades Circum-Escolares, do Liceu Nacional de Setúbal.
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