... um artigo de Opinião
de Vasco Pulido Valente
no "Público" de 27 de Março
Vasco Pulido Valente
Henrique Neto, um velho
socialista, achou de repente que o país precisava das suas luzes e resolveu
apresentar uma candidatura sua a Presidente da República.
Está no seu direito, mas foi
logo zelosamente insultado pelas luminárias do PS. Ao admirável José Lello, lembra Beppe
Grillo. Para Augusto Santos
Silva, com a sua elegância habitual, não passa de um bobo. E António Costa declarou à pressa que
o episódio lhe era "indiferente": Henrique Neto, para efeitos práticos,
não existia. No que não deixa, em
certa medida, de ter razão. Sem
dinheiro, sem apoio no partido, sem uma organização própria, sem um nome
nacional, Neto com certeza que não irá longe. Costa
podia talvez mostrar alguma curiosidade pelos motivos que levaram um homem de
78 anos, modesto e com uma excepcional carreira na Indústria, a sair da sombra. Infelizmente, Costa não se interessa
por essas bagatelas.
Só que, posto de parte
cavalheiramente este fantasma da Marinha Grande, ficam algumas perguntas, que
merecem resposta. Será, por exemplo, que, a benefício de uma amnésia incurável
e total, Costa já esqueceu o que foram os bons tempos de António Guterres : a
indecisão diária, a desordem no Governo, a ausência de autoridade, o populismo
intermitente de um primeiro-ministro católico? A sério que gostava de ver esse melancólico
espectáculo repetido em Belém? Ou
prefere Vitorino, o advogado de negócios, que nunca abriu a boca sobre o
estado, o destino e o caminho de Portugal? Ou
a invenção de Soares, que dá pelo nome de António Nóvoa, e que não se recomenda
por mais do que uma oratória com um século de atraso e uma vacuidade absoluta? Esses não são bobos, nem Grillos, nem indiferentes?
A direita não comentou a
candidatura de Henrique Neto. Por
motivos tácticos mais do que óbvios, mas também porque evidentemente não se
sente segura. Durão Barroso,
eleito pelos portugueses para primeiro-ministro, arranjou na "Europa"
um emprego melhor. Marcelo
Rebelo de Sousa é um comentador (exclusivamente preocupado com uma "Apresentação"
das politicas) a quem, ao fim de 30 anos de televisão, não se conhece uma convicção,
um princípio, um objectivo. Rui
Rio, fora a importância que ele a si mesmo se atribui, é uma personagem secundária
do Porto. E Santana Lopes
continua heroicamente Santana Lopes. No
meio disto tudo, desta pobreza e desta inconsciência, porque não a
extravagância de Henrique Neto?
Sem comentários:
Enviar um comentário